quarta-feira, junho 29, 2005

Livros Temperados

Num tempo de decotar fantasias, os dedos continuam ainda polvilhados com o pó dos livros...

terça-feira, junho 28, 2005

Infinitos

Os versos dos Homeros e os volumes dos Prousts que não lemos são sempre mais numerosos do que as ruas das Zagrebes e as águas das Benares que nunca pisámos com o olhar…

segunda-feira, junho 27, 2005

Pintar o Globo

Os daltónicos da vida gostam de pintalgar as voltas do mundo nos tons ingénuos com que costumam ser sarapintados os cavalinhos dos carrosséis de feira.

sábado, junho 25, 2005

Artifícios

Os pontilhistas da pirotecnia, em vez da mítica tela em branco, gostam mesmo é dos céus escuros. Talvez seja porque não usam tintas d’água – riscam com tons de fogo.

quinta-feira, junho 23, 2005

Maniqueísmo Cromático

O confronto de peões num tabuleiro de xadrez, o par do bule de leite e da chávena de café, um diálogo entre um vestido branco e um vestido preto.

quarta-feira, junho 22, 2005

Tango à Tarde

Na quietude da tarde quente, enquanto o raio de sol se espreguiça na madeira no jeito de quem a quer pintar de ouro, entra-nos um tango acordeonado pela janela, como se fosse uma visita de um mosquito com bigode à Gardel…

segunda-feira, junho 20, 2005

Vendaval Mínimo

A brisa boémia agita as penas das pombas, afugenta fragrâncias fortes, saltita nas saias das senhoras...

domingo, junho 19, 2005

Celestial

“Naquele céu estão o peixe, a aurora,
A balança, a espada e a cisterna.”
(Borges)

Virgens & Unicórnios

Ao bebericar um distraído copo de leite, quando a remela ainda não abriu completamente a persiana que separa o sonho da manhã, a zombeteira imaginação da menina convence-a que a virgem capturou, de facto, um unicórnio.

sábado, junho 18, 2005

Divagações

Uma renda de espuma tricotada pelas ondas servia de cenário. Ali perto, uma cadeira de rodas dançaricava ao som de uma rabeca e, ligeiramente mais distante, um fino olhar de esmeralda furava as palavras dum gordo livro.
A pupila de Junho inventa cada tapeçaria d’imagens!...

quinta-feira, junho 16, 2005

Palavras Ausentes

Muita gente tem o pretexto e domina o contexto. Só lhe falta mesmo é escrever o texto...

quarta-feira, junho 15, 2005

Stradivarius

Uma antiga lenda doméstica garantia que aquela medium,connosco aparentada pelo apelido do marido, sentada na muito vulgar sala da braseira perfumada a bagas de eucalipto e sempre agitada por netos pirralhos, conseguiu descrever cada variação, todos os aplausos do concerto do seu filho violinista, naquele preciso momento a exibir todo o seu virtuosismo num palco além-Alântico.
Fantasias telepáticas! Até porque, em herança, ninguém ficou com qualquer Stradivarius...

terça-feira, junho 14, 2005

Ninharias Nihilistas

Um farrapo de nada foi desfraldado ao vento - como se fosse uma colgadura pendente de qualquer nuvem vadia...

segunda-feira, junho 13, 2005

Genial Champanhe

“A experiência de uma tempestade no mar, até um imbecil não a esquece e sabe contá-la; mas para uma tempestade numa taça de champanhe, é preciso o génio de Proust.”
(Leonardo Sciascia)

Heróis do Mar

Povo de marinheiros desempregados, já só brincamos com caravelas nas banheiras dos tê dois...

quinta-feira, junho 09, 2005

Visões & Versões

A palavra branco tem um sentido diferente para o pintor e para o físico, para o antropólogo e para o médico, para a lavadeira e para a noiva, para o versejador e para o jogador de lotaria.

quarta-feira, junho 08, 2005

Falsários Brilhos

Cego de sol em plena tarde, a mínima mica, qualquer lantejoula, uma singela escama, os cacos de vidro, uma vulgar fivela de farda – tudo me parece ouro!

domingo, junho 05, 2005

Mundo Venatório

Estendido o planisfério na esplanada – com um diletantismo idêntico ao da dama que adornou a lapela com três tartarugas de joalharia -, quantas ideias sobre a História se fisgam com anzol de pesca, quantos preconceitos em torno da Geografia se apanham com armadilhas para pássaros canoros.
O melhor, pois, é contar os proeminentes ventres femininos que vão percorrendo o passeio e denunciam, agora, as mais intimas noite da passada invernia. Há alguém por aí que coleccione gaiolas?...

sábado, junho 04, 2005

Velharias

“O disparate não agrada senão quando é novo.”
(Pierre Corneille)

Evidência

A onda que se agita num copo de água não faz espuma.

quinta-feira, junho 02, 2005

Risonho Mel

Os últimos dias do equinócio primaveril enchem as pupilas com um oiro que pinta as tardes demoradas, riscos que parecem hieróglifos ou runas na orla marinha, risonhos seios com seu mítico paladar a mel.
Chegou, pois, o tempo em que apetece arrumar casacos e contabilidades, panegíricos e cepticismos, tratados e moleskines.

quarta-feira, junho 01, 2005

Manias do Séc. XII

“Às vezes, quem pediu um livro emprestado, empresta-o a outro, sem pedir autorização ao proprietário, e este empresta-o a um terceiro, de modo que o proprietário acaba por não saber a quem o há-de pedir e a cadeia de empréstimos vai-se alargando de tal maneira que ninguém responde já pessoalmente pelo livro que lhe foi emprestado.” Boaventura de Bagnoregio