sexta-feira, dezembro 29, 2006

Amanhã & Ontem

Estendendo o novo calendário como se fosse um lavado lençol de leito, embrulhando o ano vencido como peschisbeque apenas digno de sótão envergonhado, projectou o futuro com a reconhecida precisão dos economistas e arrumou o pretérito como uma mera ficção heráldica.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Fantasias d'Época

Um poente de canela, um pomar d'electricidades, um sorriso de menina...
E, depois d'entardecer a doçura, de se fundirem os fusíveis, d'adormecerem os lábios, uma caravana zíngara largou âncora em terra vermelha e uma caravela do Zodíaco ergueu as rodas num oceano escarlate.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Cedo Erguer

Visto à lupa, o sol d’Inverno parecia-lhe maior. Mera ilusão. Apenas tinha ajustado as almofadas d’insónias aos sempre pontuais ponteiros da noite.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Safari no Asfalto

Disfarçadas no meio do quotidiano bestiário citadino – sempre repleto de lobos e borboletas, toupeiras e falcões, vacas e asnos, baleias e melgas, minhocas e enguias, víboras e pavões -, as duas amigas assumiam-se como caçadores de elefantes urbanos.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Amores Citadinos

Amava aquela cidade como se fosse uma mulher.
“Ali”, alegava, “se a memória não me atraiçoa em demasia, apaixonei-me por meia dúzia de almas…”

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Frustrante Sísifo

Trauteava uma lengalenga, recordava um cenário, desistia de uma viagem, escolhia um poema, esquecia um beijo, comprava uma flor, apagava um desgosto, escutava uma gargalhada, honrava uma dívida, confidenciava uma amizade, rasurava uns papéis, lembrava-se de uma água-forte, soltava uma lágrima, afagava uma criança...
Com o rigor do matemático, com a minúcia do filatelista, com a utopia do filósofo, tentava sempre ir completando o puzzle da sua vida. Ensandeceu!

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Parco Siso

Misturou novidades d’outrora com memórias d’amanhã.
E riu-se d’hoje!

terça-feira, dezembro 12, 2006

Louvados Lavores

Bordava cada dia com palavras luminosas, certas frases com brilhos de sol, todas as vidas com fios d’ouro...

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Triunvirato Breve

Um perfume vadio, uma palavra louca, um sorriso de papoila.

sábado, dezembro 09, 2006

Pensar Preguiça

Vagarento como erva a crescer em prado imenso, indecifrável como mar sanguíneo para pupilas daltónicas, distraído como conversa que jamais se reatará, o sujeito apenas preguiçava o pensamento.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Absurdos d’Inverno

A felina passeava-se por entre as gotas d’água no jeito diletante de quem afaga um delgado bigode gráfico.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Invernia d’Alma

Mirava o cinza da tarde como quem se entedia num qualquer ilhéu desterrado...

Canoros Cataventos

A cortina da chuva, essa descriteriosa molhadora de calçadas e de calvices, agitava-se nervosa como se fosse veludo falso de teatro nobre ou certeza vaga de ignorante dogmático.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Fragmento d’Antanho

“Traz-me uma tulipa quando a manhã regressar...”

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Espelho Antigo

Mordia a memória para tentar localizar o tempo que antecedeu a epidemia de rugas…
Trocou d’espelho!