sexta-feira, dezembro 21, 2007

Lunários & Etc

Passeava a sua sombra nas vésperas da chegada do bissexto.
Pesava a obra alheia ao fechar as folhas do último almanaque.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Barrocos da Quadra

Um pouco mais de canela e será doce como sorriso de querubim em nicho de templo, em vitrina deste tempo.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Absurdo Quotidiano

Comprava horas, pagava o vento, adquiria sorrisos.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Iconoclasta de Dezembro

Quebrava a canela e demais especiarias e calava os querubins mais especiais.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Falsas Gémeas

Sorria palavras como quem confia em textos místicos.
Cuspia frases como quem cita livros malditos.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Canoro Eco

E, num instante, a estante ficou distante.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

F & M

Entre farripas de fumo, murmúrios marinhos.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Trava Tristezas

Violino nervoso e ampulheta calada, brindavam entre si as memórias e as utopias.

terça-feira, novembro 27, 2007

Vícios & Ofícios

Caça-toupeiras, papa-hóstias, borra-papéis, arranca-dentes, alimpadores de barretinas, coça-esquinas, arranhadores de latim & etc – que Rabelais enumerava mais umas dezenas.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Antiquices d’Almanaque

Calendários esquecidos, velhas novidades, farrapos de versos, sugestões inúteis, estranhas geringonças, fatais farmacopeias, heróis d’antanho, extintas romarias, cortesias em desuso, memórias de mausoléu – o deleite do leitor.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Tontices & Outonices

Um naco de azul a desafiar um sol já pouco agasalhado. E um bando de saudades das primaveris andorinhas.

terça-feira, novembro 20, 2007

segunda-feira, novembro 19, 2007

Afortunado Arquipélago

“Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?”
(Fernando Pessoa)

sexta-feira, novembro 16, 2007

Rimar Rimas

A sombra solitária da pomba libertária.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Brecht ou Beckett?

Descalçou o bote e naufragou a bota.

terça-feira, novembro 13, 2007

Fragrâncias Insulares

“Faróis de sal desviam para longe
o perigoso aroma das amêndoas.”
(João Villalobos)

segunda-feira, novembro 12, 2007

Armando Rafael

“Tu já partiste, eu não tardarei.
Aos corvos deixemos o que resta.”
(Eugénio de Andrade)

quarta-feira, novembro 07, 2007

Sábia Mão

Aqueles dedos delicados, além de harmonizarem tons em telas e temperos em tachos, sabiam sarar maleita e enxaqueca.

terça-feira, novembro 06, 2007

Estendal de Nadas

Ninhos de ninharias, farrapos de fumo, vozes vazias.

quarta-feira, outubro 31, 2007

M & M & M

Um muro de murmúrios modernos emudecia-lhe as suas magníficas memórias de musas imaginárias e de museus imortais.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Ficções em F

Farto de ficções, o faroleiro da fábula foi de férias...

sexta-feira, outubro 26, 2007

Ver & Calar

A janela espreitava à pestana, mas a porta não podia falar porque os lábios estavam cerrados.

terça-feira, outubro 23, 2007

Sem Ideias

A inspiração era um lençol sempre branco de palavras.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Risonha Tipografia

Andava sempre atrás de uma letra vadia, mas nunca lhe fez a emboscada tantas vezes imaginada. E morreu sem completar o alfabeto.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Utopias Nocturnas

Um saber de bagatelas, uma promessa de sorrisos, um vapor licoroso... Depois, acordou o sol e despertou o galo.

terça-feira, outubro 16, 2007

Mutante Clima

Sofreu um sono de chumbo num alegre Outubro de Primavera.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Nostalgias Breves

Naquela noite antiga cantarolavam o tempo das cerejas como se os tons d’encarnado fossem um arco-íris.

terça-feira, outubro 09, 2007

Olhar Dual

Um duplo oriente feminino martelou-lhe delicadamente a porta d’entrada, como se a campainha fosse um espírito ou um espião. Ao mirar um dos olhares teve sonhos eróticos com perfumes de cerejeira. Mas o outro par de pupilas oblíquas palrava de castas divindades envoltas em incenso e capazes d’o livrar do seu pecado ocidental.
Fechou logo porta e pálpebras!

quinta-feira, outubro 04, 2007

Oráculo Distraído

Calculava os minutos do relógio futuro com uma balança de velha mercearia. E enganou-se na hora da sua morte.
Há pianos que descem do telhado sem avisar!

quarta-feira, outubro 03, 2007

M&M

Os medos medravam embrulhados em brumas.

terça-feira, outubro 02, 2007

Distantes Futuros

Bêbedo de liberdade, corria mais que galgo rumo à utopia.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Tri-Delírio

Trinavam nas cidades. Trincavam as ideias. Trintavam nas idades.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Rimas Roucas

O encenador encantava. O desenhador desafiava. O chofer chalaceava.
Mergulhada naquela nuvem de galanteios, a donzela hesitava. Depois, mirou o triângulo de vozes em seu redor e retorquiu:
- Ai! Se eu pudesse, tanta dor vos dava!!!

quinta-feira, setembro 27, 2007

Fiel Café

Naquela manhã, sem explicação aparente, um pequeno grão de futuro agitou-se o sorriso sempre enfezado. Tremeu ligeiramente os lábios já acordados e decidiu, como era seu hábito, beber novo café.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Detestável Invernia

Ameaça já retornar o frio. E, depois, virá a estação das chuvas, primas gordas das lágrimas pequenas; o tempo desses escuros que exigem velas fumegantes; a época dos arrepios, que tapa os erotismos do estio.
Longos meses até ao regresso das andorinhas.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Sem-Riscar

Espreitava ávido aquela pupila d’água, que podia ser de Circe ou de Penélope. E calava a voz. Temia tanto a beladona que jamais saboreava o mel.

Reviver Saint-Malo

“Já nada em nossos bolsos pesa nem pecados
de novo estamos disponíveis para a primavera
e muito pequeninamente adormecemos”
(Ruy Belo)

sexta-feira, setembro 21, 2007

Fatias de Passado

Um pouco mais de Jazz e voltaria a Praga e à juventude errante.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Vida Armadilhada

Mil estrondos vermelhos, uma multidão de estilhaços e incontáveis arrepios de susto. A aziaga queda da telha rasara-lhe a orelha com intuitos homicidas. Também ninguém o mandara desviar antes o pé firme do alçapão que se abriu sem qualquer aviso.

terça-feira, setembro 18, 2007

Bizarra Criatura

Tinha o hábito de cismar entre marfins coloniais e púrpuras sacras, imaginava perfumes tão almiscarados que matavam narinas e desenhava cartografias náuticas para bem se marear em terra. Além disso, em vez de adágios ou adagas, dinheiros ou donzelas, estampas ou exemplos, coleccionava fobias e folias.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Vapor d’Álcool

Escarlateava a silhueta naquele labirinto de vozes coloridas, numa cacofonia de lanternas perfumadas, naquela contabilidade de erotismos fumegantes.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Vazios Nocturnos

A noite estava cheia de ninguém.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Aves e Vindimas

“Qual canto de torcaz quando a tempestade espreita – o ar polvilha-se de chuva, de sol fantasmagórico -, eu acordo lavado, derreto ao elevar-me; vindimo o céu noviço.”
(René Char)

Eterno Iconoclasta

Na esquina das orações, em vez de soltar uma lágrima por cada conta do rosário bento, sorria ao campo de papoilas.

terça-feira, setembro 04, 2007

Mistério Singular

Queimava cigarros tão finos como os sorrisos mais elegantes, enquanto mirava a multidão num tom de azul e soltava uma poalha de ouro sobre o desejo da noite.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Vozes Caladas

Mergulhava nas noites solitárias a perseguir utopias, esperando que, antes do triste apagar das luzes, desabrochasse uma qualquer conversa viçosa onde sempre se cultivavam daninhos silêncios.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Riscos Catárticos

Esquissava veleiros sem cessar, perfis de cidades em cascata, rostos de sorriso envergonhado...
E, assim, evitava o divã dos discípulos de Freud.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Escuridão Preguiçosa

Apercebeu-se que, naquele tempo de greve das oliveiras, só havia uma lamparina no fim do horizonte.
Levantou-se, então, do sofá preferido do gato e lá foi consertar os fusíveis.

terça-feira, agosto 28, 2007

Negros & Claros

Trocou a nuvem de chumbo por outra de algodão. Afinal, tanto trajava a alma de lutos como a vestia de alegrias.

terça-feira, agosto 21, 2007

Longínqua Mente

Fios d’ouro, pupilas d’água...
A noite sorria em seus escarlates mistérios.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Estendal sem Estilo

Sol sem sal, roupa branca, molas coloridas.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Paisagens Pisadas

Vermelho mar, verdes colinas, tint’azul n’horizont...
A cada nova página volvida entre insónias surgia mais um destino a mergulhar no sono.

sexta-feira, julho 20, 2007

Desarte Venatória

A perdiz saltitava altiva e, tonta como loura de anedota, conseguia escapar àquela gargalhada que a sonhava ver na cozinha.

quinta-feira, julho 19, 2007

Espessura Líquida

O vinho fino alargava-lhe a voz.

quarta-feira, julho 18, 2007

Pré-Noite

Hesitando entre os azuis e os ocres, o rio entardecia a ondular risadas soltas e nostalgias engaioladas, como se a sua ponte fosse uma utopia do passado.

terça-feira, julho 17, 2007

Vapores Vários

Largava risos sobre a tagarelice com a sabedoria d’ébrio de botequim.

sexta-feira, julho 13, 2007

Memória de Miragens

Eclipsava-se da vista durante horas sem peso, semanas sem conta, décadas sem calendário, até se esbaterem os contornos do sorriso, o brilho das pupilas, o timbre da conversa.

quinta-feira, julho 12, 2007

Fobias Fatalistas

Temendo o olhar de serpente ou de hipnose ou de lascívia, a dócil donzela de folhetim só conseguia namorar ao telefone.

quarta-feira, julho 11, 2007

Suspenso Suspense

De risco em risco, pautava as músicas do quotidiano e do destino.

sexta-feira, julho 06, 2007

Culto da Aparência

Iluminava a capitular com mil arabescos. E, depois de perder dias a desenhar essa letra primeira até fazer corar de modéstia, nas suas sacras tumbas, os monges copistas anteriores a Gutemberg, escrevia o texto em rápidos minutos. Era o recordista absoluto dos atentados à ortografia.

quinta-feira, julho 05, 2007

Fútil Inútil

Deteve, por um instante, o nervosismo da tesoura. Depois, decidiu-se. Recortou a notícia entre as vidas alheias. E, como qualquer simpático cínico, sorriu da fama daquelas lágrimas.

quarta-feira, julho 04, 2007

Fantasias Domésticas

Vivia num sótão, entre baús de quinquilharias sem cadeado e fardos de jornais atados a corda, pilhas com três gerações de memórias e trastes avulsos sem genealogia, restos de cordas de falsos stradivarius e nacos de prosas de genuínas assinaturas.
Ao ligar a ventoinha, fugiram papéis amarelos, apareceram retratos a sépia, marcharam borboletas de lata, voaram soldados de chumbo, tartarugaram carros de corrida, lebraram muralhas de castelo.

sexta-feira, junho 29, 2007

Olhares-Veleiros

A pupila largava âncora sobre o jantar e a toalha dos marinheiros naufragava entre figos e fumos.

quarta-feira, junho 27, 2007

Na Mouche

A asa de vento disparava um voo e uma vertigem e acertava sabiamente naquela difusa luz longínqua.

sexta-feira, junho 22, 2007

Jantares d’Amigas

Polvilhavam de paprika a conversa, manchavam os retratos com canela, largavam aguardente nos decotes.

quarta-feira, junho 20, 2007

Vieram Ventos

No seu galope garoto, amolecia as melenas das helenas, mexia os moinhos amigos, lambia lixos e luxos...

terça-feira, junho 19, 2007

Dias de Chumbo

Chovia-lhe na alma.

segunda-feira, junho 18, 2007

Saudade sem Sentido

Ah!
Suspirava, ciciava, sussurrava...
Sentia saudades de cidades só sonhadas.

terça-feira, junho 12, 2007

Cabeça ao Vento

Pousava as ideias numa toalha de piquenique. Deixava-as chilrear, melrear, pardalar. E ficava a olhar para elas como se estivesse a admirar o ponteiro de uma bússola ensandecida.

segunda-feira, junho 11, 2007

Precoce Veraneio

Junhava-se na praia no mês meia dúzia...

terça-feira, junho 05, 2007

Azul com Asas

A tinta negra garantia-lhe uma escrita austera como a de edital, habilidosa como a da contabilidade.
A tinta azul fantasiava-lhe as palavras, que andavam sempre a vadiar atrás das máscaras de teatro, das metáforas da poesia.

sexta-feira, junho 01, 2007

Aperitivo Quotidiano

A sua mistura matinal era Mozart com martini.

quinta-feira, maio 31, 2007

Lugares D’Amnésia

Detinha, alhures, bengalas de bagatela. Tinha, em nenhures, ninhos de ninharias.

quarta-feira, maio 30, 2007

Brilhos Avulso

Não há moedas de prata que cheguem a um sorriso de ouro.

segunda-feira, maio 28, 2007

Triplo Tom

Esverdeiam folhas na brisa. Vermelham famas na brasa. Azulam falsas no barco.

Sonora Surpresa

Vinda do nada, a voz estrelou o sorriso.

sexta-feira, maio 25, 2007

In Inspirações

Nevou na página.

quarta-feira, maio 23, 2007

Colecção de Nadas

Refractário a catálogos obsessivos e a álbuns minuciosos, apenas coleccionava velhos versos, farrapos de fumo, sábios sorrisos...

segunda-feira, maio 21, 2007

Estados D’ Espírito

Aquele chilrear encantava, inquietava, incomodava...

quinta-feira, maio 17, 2007

Ébrio Luxo

Lábios de palavras, rendas soltas, bolhas loucas...
Tinha mergulhado numa piscina de champanhe!

quarta-feira, maio 16, 2007

Suspeito Suspiro

Sorria sempre entre a sombra e o silêncio.

terça-feira, maio 15, 2007

‘Té Já!

As aves arribavam, aconchegavam-se, adormeciam, adoravam, atardavam-se. E, depois, tornavam ao terno tépido, aos trópicos eróticos, ao entornar do eterno.

segunda-feira, maio 07, 2007

Timidez Urbana

Engolia palavras, parava o sorriso, encolhia gestos...
E como nunca iniciava diálogo com desconhecido rosto d’encantos, deixava sempre partir todas as pupilas risonhas.

quinta-feira, maio 03, 2007

Dobro e Metade

“É uma idade interessante, vinte e dois anos; é-se então facilmente imprudente e assustadiço, porque nessa idade reflecte-se pouco e a imaginação é viva.”
(Joseph Conrad)

Pobres Tempos

Até tomava pílulas para desangustiar. Em vão. Andava sempre a olhar para o relógio apressado e para a algibeira vazia...

segunda-feira, abril 30, 2007

Miar à Nuvem

O gato branco da janela vizinha lia farrapos de conversas e ronronares de gente impressos nas nuvens d’algodão ou sussurrados em voos d’aves.

quinta-feira, abril 26, 2007

Desistência Persistente

Cansado do amanhã, já se tinha esquecido do verso d’hoje.

terça-feira, abril 24, 2007

Secreta Sombra

Se a silenciosa silhueta só sorrisse sílabas singelas ou sentenças sábias...

segunda-feira, abril 23, 2007

Vírgula Hamletiana

Meditava, cogitava, hesitava...
Era difícil deixar cair aquela vírgula no horizonte da escrita.

quarta-feira, abril 18, 2007

Fruta Escura

Ambicionava um futuro d’amoras, as cerejas do desejo, morangos d’erotismo....
Sem jeito para nada, decidiu descascar romãs.

terça-feira, abril 17, 2007

Chumbo & Ouro

Alquimista das conversas de botequim, transformava o chumbo derretido das letras vadias em dourados aforismos para depois colar na cara lavada do frigorífico.

segunda-feira, abril 16, 2007

Psico Retratismo

Mirava uma silhueta durante um segundo, escutava um murmúrio breve como trovão, reparava num gesto curto como o pestanejar – e logo tirava uma polaroid àquela alma.

quinta-feira, abril 12, 2007

Fino-Grosso

Numa caligrafia tão miúda como bebé de maternidade coleccionava palavras tão gordas de mistérios como abraxas ou abracadabra.

quarta-feira, abril 11, 2007

Semeador D’ Ideias

Lançava palavras ao acaso do vento como se largasse sementes virgens no húmus.

segunda-feira, abril 09, 2007

Bispos & Crocodilos

“Los naipes son muy veleidosos; una vez hicieron blasfemar a un mudo, porque de la baraja puede salir cualquier cosa, ya se sabe, desde un cocodrilo a un obispo.”
(Manuel Vicent)

Tardia Timidez

Entre farripas de céu entardecido, um sol tímido como chilreio de pássaro assustado.

quinta-feira, março 29, 2007

Fictícia Medalha

Pregou um fio de sol na alma como se fosse uma jóia herdada, uma condecoração por bravura, uma insígnia de risada.

quarta-feira, março 28, 2007

Falar Aquoso

Largava as palavras sobre o lago dos discursos como se fossem escamas encarnadas de exóticos peixes a contrastarem com a metáfora dos nenúfar’esverdeados…

sexta-feira, março 23, 2007

Humores Líquidos

Num mar d’angústias, invejava aquele sorriso a nadar nos lábios.

quinta-feira, março 22, 2007

Discos & Dívidas

A dança dos algarismos nas contas e nos cálculos, nas dívidas e nos débitos leva a imaginação a comparar o bico da caneta que cai sobre o papel com a agulha que mergulhava no vinil.

quarta-feira, março 21, 2007

Adiada Esperança

O horizonte afastava-se do seu olhar com uma teimosia de birra infantil ou de ruga a desenhar-se no rosto.

terça-feira, março 20, 2007

Vidas Canoras

Acordava com o sino da igreja, erguia-se com o retinir do despertador, passava o dia a reparar claxons d’automóvel e campainhas de porta, almoçava na vizinhança de uma carreira de tiro, atendia todos os telefones da repartição, dormitava no comboio pouca-terra, jantava num botequim com rumbas e rocks na telefonia, desligava o candeeiro entre ecos da infância e estrondos do futuro.
Ensurdeceu, obviamente!

segunda-feira, março 19, 2007

Ilusória Cafeína

Aquela pupila fugidia mais parecia café em xícara – negra, cremosa, distraída...

sexta-feira, março 16, 2007

Delírios Equestres

Um corcel colorido galopava por cima de um farrapo de memórias.

quinta-feira, março 15, 2007

Chapéu de Chumbo

Espetou um alfinete na nuvem. Nem assim recuperou o arco-íris...

quarta-feira, março 14, 2007

Musas Marinhas

O mar que m’inspira evaporou-se n’neblina…

Cibertertúlias

Gélido silêncio...

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Poeta Bucólico

Nas manhãs de neblina, usava aparos de sol para escrever nas folhas das árvores...

domingo, fevereiro 04, 2007

Lunático Melómano

Mergulhava no teclado do piano como se nadasse em plena lua.

sábado, fevereiro 03, 2007

Pétalas Sem Plumas

Regava os cachimbos do vaso enquanto observava o voo das rosas...

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Alheias Geografias

Um jovem leopardo coxo passeava nas avenidas automóveis de Nova Iorque. Um reputado africanista de romance decidia começar a coleccionar crocodilos mais a Oriente. Um goliardo contemporâneo largava pragas sem nunca ter pisado a capital da antiga Boémia.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Textos & Paradoxos

Escriba de várias palavras mortas de algumas línguas vivas, mordiscava o teclado e martelava com o aparo.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Tripla Tristeza

Tinha um relógio que se enganava sempre nas horas, uma caneta que se recusava a escrever palavras, uns lábios que jamais conheceram um sorriso.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Lembrar Marienbad

Trajo alvo e bisturi em riste, sem ligar ao veleiro do Corto Maltese ali ancorado, passeava-se pelo arquipélago verde dos sonhos e dos desejos, evocando sempre aquele filme antigo do Alain Resnais...

terça-feira, janeiro 23, 2007

Graal de Bolso

Por um grão de pimenta, por uma pupila negra, por um paladar de beijo, por uma gota de mar...
A sua demanda era tão permanente como eterna.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Obsessão do Risco

Arriscadamente geométrico, riscava as palavras da página com a precisão de quem inscreve riscas em camisas.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Ópio de Tarde

Aquele pestanejar dolente parecia tão caloroso como uma fogueira zíngara, tão longínquo como um caracter nipónico...

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Pérolas à Solta

Aberta a ostra da memória, saltam de lá pérolas para cima de mapas antigos, para assinalarem papéis pintados a caligrafias, para rolarem em tabuleiros de xadrez esquecidos, para se aconchegarem nos veludos de qualquer teatro futuro.

sábado, janeiro 13, 2007

Cocktail Minúsculo

Algumas gotas de perfumes suaves, mais meia dúzia de qualquer aguardente robusta, poucas de xarope gripal, meio sorriso, uma lágrima verdadeira, três de licor d’avó, versos para enfeitar o copo, um pingo de suor erótico, outro de vulgar sabedoria.
Misture-se com o Mundo. Sirva-se.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Arquitectura Mental

Àquela testa baixa, onde as ideias só entravam de gatas, nunca chegava sombra de verso nem suspeita de filosofia.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Mentiras d’Algibeira

Antes de trocar a mandrágora pela cicuta, de vender o unicórnio para comprar o dragão, de substituir o Livro do Zohar pelo de São Cipriano, resolveu guardar o sol no frigorífico.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Tédio à Tarde

Uma requintada actriz transalpina, dois voos para mares quentes, três fortes fragrâncias em farrapos, quatro notícias da neve clássica, cinco manchas na pele do leopardo, seis ostras para acompanhar champanhe...
Em suma: uma tarde domesticada.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Martelo no Crânio

Por aquela esguia fenda da testa, tão profunda como se fosse fractura em muralha de castelo, esvaiam-se pedaços de discursos, contas sem solução, versos incompletos, o juízo inteiro.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Horas Caídas

Entretidos com milhentos nadas, vagueando entre alhures e nenhures, perdidos num labirinto de bagatelas, ficam sempre com a bizarra sensação que o seu dia não tem as vinte e quatro horas da lei.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Olfacto Mínimo

Um pingo de perfume, tão breve como versos japoneses, a evaporar-se ao longo do dia.
Apenas…

terça-feira, janeiro 02, 2007

Amuletos, Benzeduras, Etc

Esqueceu-se da chave da porta e dos amuletos de bolso. Menosprezou as benzeduras do corpo e os oragos para a casa. E, depois, como tinha mais superstições no espírito que unicórnios na colecção, precisou dum unguento para afagar o crânio, duma mezinha para aconchegar o estômago, dum bálsamo para serenar a alma, dum filtro para confiar no destino.