sexta-feira, abril 08, 2005

Pulipa

Na risonha pupila de um bebé reflecte-se um passeio inteiro: pérolas de montra, pechisbeque em caracteres chineses, jornais no escaparate, estendal de fruta, bata d'escola, nódoa em fato macaco, decotes de lantejoulas, crucifixos no interregno papal, lentes escuras contra o sol, adiposidades que a moda salienta, árvores pouco frondosas, penas de pomba, cartazes de procissão, folhetos de rave, paredes que dão dinheiro, varandas rendilhadas, tabiques d'obras, fumos d'escapes, perfumes almiscarados, odor a café moído, lixo que ofende narinas, nacos de conversas ocas, gargalhadas estrídulas, Vivaldi em versão telemóvel, as raras elegâncias, os imensos ridículos.
Um dia, pupila mais crescida, pode ler tudo sobre estes tempos nas páginas do Lobo Antunes...

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