quarta-feira, junho 25, 2008

Voltar a Partir

Folheava o filme das férias. Detinha-se naquele jardim de desenho francês, num paladar silvestre d’amoras, em risonhas máscaras carnavalescas, num sinfónico chilreio matinal, na decadente fidalguia dum solar, num guevarista d’outrora, numa igreja erguida fora do mundo, em poentes d’horizonte, num bizarro cantar polifónico, na noite rasgada a foguetes lacrimejantes. E sorria com as memórias, os amores, as miragens...

segunda-feira, junho 23, 2008

Ninguém Repara

Coleccionava um absurdo a cada dia, como se fosse uma fantasia d’artista: conduzia uma limusine pelas mais estreitas vielas ou dançava nas discotecas numa cadeira de rodas.

sexta-feira, junho 20, 2008

Interlúdio do Solstício

A manhã mergulhara já em puro ouro, como se os azuis fossem apenas pálidos e o vermelho quase suave. Até a memória parecia cegar com tal brilho matinal. Então, decidiu hibernar toda a tarde e esperar pelo crepúsculo para pesar passados e medir futuros.

terça-feira, junho 17, 2008

Melómana Fealdade

O timbre rachado do seu cantar fendia a perfeição daquela silhueta.

segunda-feira, junho 16, 2008

Tímidas Noites

Aquela pupila desconhecida estava tão próxima que quase conversava.

segunda-feira, junho 09, 2008

Cosmopolita Lusitano

O seu remetente postal, nos tempos pré-Net, mudava de continente com o mesmo desprendimento com que as estações percorrem o ano. E, no entanto, esquecendo a sua afeição por isqueiros d’ouro e relógios de família, podia dizer-se que só coleccionava um vício: olhar tranquilo para o transparente céu português.