Fictícia Medalha

Pregou um fio de sol na alma como se fosse uma jóia herdada, uma condecoração por bravura, uma insígnia de risada.

Falar Aquoso

Largava as palavras sobre o lago dos discursos como se fossem escamas encarnadas de exóticos peixes a contrastarem com a metáfora dos nenúfar’esverdeados…

Humores Líquidos

Num mar d’angústias, invejava aquele sorriso a nadar nos lábios.

Discos & Dívidas

A dança dos algarismos nas contas e nos cálculos, nas dívidas e nos débitos leva a imaginação a comparar o bico da caneta que cai sobre o papel com a agulha que mergulhava no vinil.

Adiada Esperança

O horizonte afastava-se do seu olhar com uma teimosia de birra infantil ou de ruga a desenhar-se no rosto.

Vidas Canoras

Acordava com o sino da igreja, erguia-se com o retinir do despertador, passava o dia a reparar claxons d’automóvel e campainhas de porta, almoçava na vizinhança de uma carreira de tiro, atendia todos os telefones da repartição, dormitava no comboio pouca-terra, jantava num botequim com rumbas e rocks na telefonia, desligava o candeeiro entre ecos da infância e estrondos do futuro.
Ensurdeceu, obviamente!

Ilusória Cafeína

Aquela pupila fugidia mais parecia café em xícara – negra, cremosa, distraída...

Delírios Equestres

Um corcel colorido galopava por cima de um farrapo de memórias.

Chapéu de Chumbo

Espetou um alfinete na nuvem. Nem assim recuperou o arco-íris...

Musas Marinhas

O mar que m’inspira evaporou-se n’neblina…

Cibertertúlias

Gélido silêncio...