terça-feira, dezembro 27, 2005

Oscilações

Uma singela lágrima celeste fez estremecer toda a renda solarenga que se foi tricotando nos vagares da manhã.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Tempo Certo

Um pigmento de cinza caiu sobre a manhã, aumentando o trânsito dos guarda-chuvas.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Maldita Surdez

Um clamor de timbres e um coro de gargalhadas adubam a conversa com uma boca cheia de nadas.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

In Sónias

No meio do furacão das ondas de lençol e dos disparos de canhões de comprimidos, o sonhador furou a tormenta daquela noite de pesadelos, sempre com a mente na sua Dulcineia, que, neste nosso tempo, responde pela graça de Vanda ou Sónia.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Micro-urbanismo

A paisagem está repleta de papéis com lantejoulas, fitas escarlates, laços com poalha d’oiro...

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Brilhos Escuros

A lua em forma de batel triunfava no mar negro da noite.

sábado, dezembro 03, 2005

Adornos Naturais

A noite precavida, de gorro bem enfiado, sem saber como, ficou com duas gotas penduradas nas orelhas à laia de brincos....

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Catálogo de Partidas

Partir pedra à picareta, partir a cabeça com uma charada, partir de barco em viagem....

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Zombeteiro Calendário

Manhãs de geada, tardes torradas, sardinhas gordas, suínos esventrados, marés risonhas, neves eternas, filas d’impostos, ordenado dobrado, terças mascaradas, dias de chorar finados, quaresmas e ramadões, flores que amarelam, folhas que acastanham, óculos escuros esquecidos, gabardinas naftalinadas, efemérides a respeitar, santos feriados, mês das cerejas, época das vindimas,natais de cada um, sacramentos por convite, gotas de suor, bátegas de chuva...

quarta-feira, novembro 30, 2005

Traço de Demiurgo

Na ponta do lápis começa o desenho do Mundo.

terça-feira, novembro 29, 2005

Gente d’Outrora

Arrimou o juízo à bengala, retirou o boné das memórias e encomendou um almoço à moda antiga.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Vésperas de Solstício

Definitivamente, o cachecol abandonou o sossego do cabide....

sexta-feira, novembro 25, 2005

Janelas de Desejo

Casario arco-íris, velas ébrias, gargalhadas canoras, escamas prateadas, nacos de memórias, reflexos d’oiro, esboços de sonhos – afastar a cortina e mirar o rio...

quinta-feira, novembro 24, 2005

Traço & Acaso

O lápis livre arabesca labirintos.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Doçarias

Uma singela camada de pó de canela vai adoçar aquelas esverdeadas pupilas...

domingo, novembro 20, 2005

Vento Limpo

A dança das árvores vai varrendo as ideias erradas da paisagem…

sábado, novembro 19, 2005

Cálice d’Intempérie

As agulhas de chuva tricotavam brilhos no pátio espelhado.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Crono-Fobia

Temendo a fuga das horas, levava sempre um relógio de parede incrustado na mala de viagem.

terça-feira, novembro 15, 2005

Musas Mudas

Só escrevia de forma inspirada quando estava apaixonado ou deprimido....

segunda-feira, novembro 14, 2005

Exagero Publicitário

A negra silhueta do touro recortada contra as nuvens da paisagem não era prenúncio de qualquer tauromaquia celestial....

sexta-feira, novembro 11, 2005

Sem Asas

Um cisne iluminado na parede, uma dúvida que pousa no espírito, um bule de porcelana quebrado. Em suma: uma trindade kitsch.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Folha Vazia

Uma moeda sem cara, uma lâmpada fundida, um rasgão em forma de roupa, uma voz sem palavras, uma caneta de tinta branca – eis um ténue fio de nada.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Gente Colorida

Um grão de canela na pele, um tom de palha no cabelo, um morango nos lábios... A beleza – como a inteligência! – ignora os conceitos de raça e de bandeira.

domingo, novembro 06, 2005

Surdos Funcionais

O cachimbo a fumegar ideias inteligentes encharcou o salão de palavras sábias. Mas o ronronar pesado das conversas miúdas inundou quase todos os tímpanos com a cera própria deste tempo.

sábado, novembro 05, 2005

Torre de Controlo

Um olhar com asas, um jacto de luz, um pavão de pedra – e um manto de nevoeiro a cobrir o aeroporto...

sexta-feira, novembro 04, 2005

Almas Inquietas

Um reflexo de prata, uma nódoa de café, um pingo de tinta – há sempre qualquer coisa a manchar a alvura do dia.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Binóculos de Camarote

Uma vez por outra, nem que seja por engano, apetece mirar o longe e ver o horizonte com um qualquer rasgão divertido.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Imperativos da Física

Um fio escarlate de silêncios rebenta uma frágil bolha de memórias.

terça-feira, novembro 01, 2005

Extravagante Coleccionismo

Com tantos cromos despreocupados a passear nas ruas e nos becos e nas praças só falta mesmo aparecer por aí o meticuloso dono da caderneta.

Trivialidades

Um fumegar de castanhas, um pelicano maçónico e um prateado de lua.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Inútil Kant

Uma angústia de caracóis minúsculos, que se exprime num sorriso de anjo barroco ou em lágrima gorda como pérola, depressa extermina argumentos cartesianos, razões kantianas, certezas saloias.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Vendaval d’Ideias

Enquanto penteava as ideias ao vento perdeu o pente da memória....

quinta-feira, outubro 27, 2005

Saídas da Ostra

Smokings à antiga, bustos balzaquianos, silêncio de calar mosca atrevida. De súbito, como se um granizo nas vidraças apagasse os chopins de salão, a pianista interrompeu o recital. As jovens pérolas, que fugiram do colar, saltitavam agora pelo marfim das teclas.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Época das Gotas

Em plena cavalgada de nuvens pardas, plúmbeas, pretas alguém deixou cair uma ingénua gota de verde...

domingo, outubro 23, 2005

Manias Avulsas

Aspergia a mesa com gotas de champanhe antes de estender a toalha, como se a baptizasse para cada banquete.

sábado, outubro 22, 2005

Espelho Defeituoso

O sujeito passou o serão a segredar à sua própria sombra.

Fiat Lux

Clarificaram a copa das árvores ao correr da noite, indiferentes à luz do sorriso de todos os palhaços divinos.

Fiat Lux

Clarificaram a copa das árvores ao correr da noite, indiferentes à luz do sorriso de todos os palhaços divinos.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Centro de Mesa

Plantaram uma cerejeira no centro de uma mesa de jantar para, na estação propícia, poderem trautear Le Temps des Cerises...

terça-feira, outubro 18, 2005

Cefaleia Comum

Leões que cospem pragas aziagas como se fossem vulgares jactos de água, girassóis que espetam lapelas para machucar a alma, palavras sem dicionário que nos comem a orelha. Em suma: uma trovoada na testa.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Fruta d’Época

Enviaram-me uma romã para o telemóvel. Mas não posso provar essa metáfora outonal. Só aprendi a trincar, entre duas chamadas, fruta às fatias, aos gomos, às talhadas.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Olhos Sedentários

Quando aquela pestana abandonou a pupila para se lançar numa viagem solitária pelos caminhos da Mancha nunca imaginou os riscos que corria: uma repentina rajada de vento era bem capaz de a atirar até Ítaca; um traiçoeiro jacto de mangueira era suficiente para a fazer mergulhar em busca da Atlântida.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Anatomias Musicais

Uma linha de sax tão pouco ondulada como uns seios de escultura pequena, um coro de sorrisos que segue as notas saltitantes de uma pauta alegre, uma colecção de andares que se movem com a convicção do piano bem martelado. Surgirá daí alguma melopeia que mereça girar em forma de CD?

quarta-feira, outubro 12, 2005

Breton-adas

Uma catedral adornada com pérolas salgadas, um mar de caracóis femininos a perturbar o sossego das sereias e uma floresta de árvores com peixes-folhas – como se toda a frase se pudesse escrever numa singela escama de prata.

sábado, outubro 08, 2005

Almanaques

"Estes católicos. Gente de almanaques e proibições."
(Guillermo Cabrera Infante)

Isolamento

De súbito, ficamos na companhia duma vastidão de ninguéns.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Fragrâncias Nocturnas

Uma brisa de cannabis perfumava a praça feita de piercings decotados e de tattoos musculosos.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Tricolor

Um telhario vermelho, um esverdeado de ramos e, depois, um azul marinho. A multidão de gaivotas, pousada diante da linha de espuma, parece aguardar um certo cargueiro ou um qualquer paquete.

domingo, outubro 02, 2005

Obsessões

Uma filigrana d'erro ofusca a joalharia d’elogios.

sábado, outubro 01, 2005

Saudades de Sonhar

Por vezes, os lençóis assentam tão levemente sobre a brevidade do sono que quase nem se sente o cheiro da almofada.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Tinta Mágica

O aparo, ao comandar o pulso, esboça barbatanas de peixes que mais parecem pássaros, rostos com fechaduras de porta, nacos de cidade que até espantariam Calvino.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Intranquilidades

Nervos eriçados, como se fossem músculos de gato, escrevem o quotidiano numa caligrafia tão pouco firme que até parece saída dos distantes bancos d’escola.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Era Uma Vez

Umas abelhas búlgaras, que recusavam debruçar-se sobre os tabuleiros dos xadrezistas de jardim, zumbiam em cirílico por cima do almoço.

Pinturas Anónimas

Riscaram o céu com branco de nuvens – o mesmo tipo de gesto com que se pintam laranjas nas árvores do pomar.

domingo, setembro 25, 2005

Manias de Biblioteca

“Passo pelos longos corredores, de cima a baixo os livros nos seus túmulos. São milénios de balbúrdia, tagarelice infindável, filósofos, investigadores, poetas, doutores da Igreja, moralistas, juristas, políticos, algaraviada infernal, interminável algazarra através das eras – estão imóveis nos seus túmulos irrisórios.”
(Vergílio Ferreira)

sábado, setembro 24, 2005

Miniatura Óptica

Um farrapo de nuvem entra na pupila e esconde o brilho da manhã.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Andorinha Andarilha

Arribar. Partir. Por vezes, sorrindo...

quinta-feira, setembro 22, 2005

Homem de Mármore

Um longo fio de horas em pé, esperando por um Godot qualquer, confunde a silhueta estática com a rígida estátua vizinha.

terça-feira, setembro 20, 2005

Palavras Poderosas

Na franja do lençol, em caligrafia garatujada, uma pequenina bruxa enxota-nos os sonhos matinais.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Evidências

A beleza de um riso dispensa adjectivos.

Borracha Urbana

Afundaram um automóvel de colecção num aquário seco de peixes com a mesma facilidade com que se risca uma palavra mal escrita em folha de papel.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Impressões Digitais

“As suas mãos esguias, delicadas e nervosas fazem pensar no póquer ou na roleta,mas também em sapientes contactos com porcelanas, pergaminhos, instrumentos musicais, e com meias femininas, sedas, rendas e fechos duros de colares.”
(Fruttero & Lucentini)

Asas Sossegadas

No tapete de águas verdes, como se a realidade imitasse o mar plástico de Fellini, e perante a alheada atenção das casas vestidas de pijama, a gaivota empoleirada num mastro parecia meditar sobre Veneza.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Luares

Curiosa como pupila infantil, a lua espreitava os pensamentos que andavam a passear pela varanda...

quarta-feira, setembro 14, 2005

Dourados Dias

Entardecer d’ouro num’alma plúmbea.

Fantasia com Fiama

Embarquei um verso da Fiama num eléctrico com carris que pisavam uma lua feita de pautas e toda a hera que canta nos jardins.

domingo, agosto 28, 2005

Nódoa Branca

As palavras esqueceram-se de chegar ao aparo da caneta...

sábado, agosto 27, 2005

Maniento Galicista

Saboreava, com imensos requintes, umas singelas maçãs da terra.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Jardim de Especiarias

Uma gota de solidão a temperar a sopa.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Insónias Marinhas

Os lençóis da cor do mar agitam ondas de ideias, espumas de projectos, tempestades de pesadelo, até a exausta lua assentar, definitivamente, a bonança do sono.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Brincos com Música

Nem uns brincos em forma de sax com som agrediriam tanto os tímpanos como os músicos daquele botequim.

terça-feira, agosto 23, 2005

Vagabundo Agrilhoado

Um avião com tamanho de fósforo voa quase cego em torno da lâmpada central. Faz de conta que a sua rota saltou da geografia para se anichar nos desejos adiados de um qualquer vagabundo agrilhoado...

segunda-feira, agosto 22, 2005

Vidros Quebrados

“Porque o deserto tem de tempo a areia entornada de milhões de ampulhetas partidas”
(Hermínio Monteiro)

Tradição vs Tradução

O mar ficou com um horizonte difuso na tão matinal como vernácula névoa atlântica. Até parece que também se vão esfumando as palavras no seu incessante trânsito entre as línguas mortas, os dialectos moribundos e os idiomas triunfantes.

terça-feira, agosto 16, 2005

Ampulhetas Agitadas

As horas nem sempre cabem inteirinhas nos ponteiros do relógio...

domingo, agosto 14, 2005

Cliché de Mestre

Esticado à sombra, apenas... Na pose daquele corpo feminino que Alvarez Bravo, ao conceber “La buena fama durmiendo”, deitou ao sol.

sábado, agosto 13, 2005

Fantasias

O sujeito era um pé descalço em plena sapataria da inteligência.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Costumes em Desuso

“(...) um doutor lhe fez sua arenga costumada e os oficiais lhe apresentaram as chaves em um bacio de prata.”
(Gaspar Correia)

Visões & Ilusões

Encostado ao fundo, qual veleiro sem âncora pintado numa parede, descortino o vulto antigo, como se Lawrence Ferlinghetti estivesse ali de atalaia à porta, a conferir os jovens decotes femininos, os hirsutos penteados dos rapazes, a garabulha de vozes que silencia telemóveis, a sucessão monótona das bebidas louras, a desordem das cadeiras...

quinta-feira, agosto 11, 2005

Antigos Ecos

Um sopro, um assobio, um chilreio – qualquer coisa me traz de volta a silvestre melodia...

quarta-feira, agosto 10, 2005

Olhares Míopes

No meio da algazarra, como se fosse um improviso de jazz, uma pupila vadia brilha mais que a lua nova.

terça-feira, agosto 09, 2005

Resquício de Conrad

“Mas trago notícias de como é que está no ‘coração das trevas’, nas fronteiras do vaivém, nos túneis da precaução, nas rotas da má lembrança, e da boa, também, se às vezes fecho os olhos e é o mesmo, o cheiro, e eu tinha então vinte anos e andava a ver se encontrava a ponta do meu fio, na meada.”
(Ruy Duarte de Carvalho)

Absurdas Rimas

“As muçulmanas”, indagavam uns inocentes caracóis ao repararem na proliferação de cabelos escondidos e rostos velados, “são diferentes de nós, as humanas?”

segunda-feira, agosto 08, 2005

Misterioso Verde

“Os ambulantes transportam as suas cargas mágicas dos mais diversos objectos de vertu, desde os macios tapetes de Xiraz e do Balochistão até aos baralhos de cartas de Marselha; incenso de Hedjaz, contas verdes contra o mau-olhado, pentes, sementes, espelhos para gaiolas, especiarias, amuletos e leques de papel... a relação seria infinita [...].”
(Lawrence Durrell)

Moreno Verão

Loucas lantejoulas, farrusca floresta, sol d’incêndio!

domingo, julho 17, 2005

Intervalo

Partir!!!
A única palavra que, agora, interessa...

Medievalices

“É uma época que, mais do que qualquer outra, nos aparece marcada pelas suas brancas roupagens de igrejas repletas de esculturas, mosaicos ou vitrais multicolores, ourivesarias cintilantes, livros coloridos com iluminuras, marfins esculpidos, enormes portas de bronze, esmaltes, pinturas murais, tapeçarias, bordados, tecidos de variadas cores e com desenhos singulares e quadros pintados em fundo de ouro.”
(Enrico Castelnuovo)

sábado, julho 16, 2005

Sábia Ignorância

Fundiu-se o fusível. E o neurónio adormeceu…

sexta-feira, julho 15, 2005

Culto d'Absurdos

Marcar encontro com um qualquer sorriso antigo numa viela parda da memória.

quinta-feira, julho 14, 2005

Relógio Curto

Travar a ampulheta, ludibriar o calendário, inebriar a cronologia – tudo tarefas frustradas!
E, no entanto, escasseia sempre tempo para o labor, para o prazer, para a leitura, para a preguiça...

quarta-feira, julho 13, 2005

Foxtrot

As luzes mais louras quebram-se no rio pintado de escuro como se fossem palavras escritas com um qualquer dançante bâton transparente.

terça-feira, julho 12, 2005

Gralhas

As silhuetas das garrafas, as memórias das granadas, as vozes que ficam gravadas...
Tantas gravatas!

segunda-feira, julho 11, 2005

Distâncias

O clássico fio telefónico não sabe cantar sorrisos em pequenas pupilas ébrias de alegria.

segunda-feira, julho 04, 2005

Lento Horizonte

O navio que está a pisar o horizonte azul anuncia-se tão lento perante o nosso olhar como se, lá ao fundo, o comandante perseguisse, obstinado, qualquer preguiçosa tartaruga...

sexta-feira, julho 01, 2005

Azul-Vermelho

"Azul... a Terra?
Não! Vermelha... da cor da guerra!"
(grafitti)

quarta-feira, junho 29, 2005

Livros Temperados

Num tempo de decotar fantasias, os dedos continuam ainda polvilhados com o pó dos livros...

terça-feira, junho 28, 2005

Infinitos

Os versos dos Homeros e os volumes dos Prousts que não lemos são sempre mais numerosos do que as ruas das Zagrebes e as águas das Benares que nunca pisámos com o olhar…

segunda-feira, junho 27, 2005

Pintar o Globo

Os daltónicos da vida gostam de pintalgar as voltas do mundo nos tons ingénuos com que costumam ser sarapintados os cavalinhos dos carrosséis de feira.

sábado, junho 25, 2005

Artifícios

Os pontilhistas da pirotecnia, em vez da mítica tela em branco, gostam mesmo é dos céus escuros. Talvez seja porque não usam tintas d’água – riscam com tons de fogo.

quinta-feira, junho 23, 2005

Maniqueísmo Cromático

O confronto de peões num tabuleiro de xadrez, o par do bule de leite e da chávena de café, um diálogo entre um vestido branco e um vestido preto.

quarta-feira, junho 22, 2005

Tango à Tarde

Na quietude da tarde quente, enquanto o raio de sol se espreguiça na madeira no jeito de quem a quer pintar de ouro, entra-nos um tango acordeonado pela janela, como se fosse uma visita de um mosquito com bigode à Gardel…

segunda-feira, junho 20, 2005

Vendaval Mínimo

A brisa boémia agita as penas das pombas, afugenta fragrâncias fortes, saltita nas saias das senhoras...

domingo, junho 19, 2005

Celestial

“Naquele céu estão o peixe, a aurora,
A balança, a espada e a cisterna.”
(Borges)

Virgens & Unicórnios

Ao bebericar um distraído copo de leite, quando a remela ainda não abriu completamente a persiana que separa o sonho da manhã, a zombeteira imaginação da menina convence-a que a virgem capturou, de facto, um unicórnio.

sábado, junho 18, 2005

Divagações

Uma renda de espuma tricotada pelas ondas servia de cenário. Ali perto, uma cadeira de rodas dançaricava ao som de uma rabeca e, ligeiramente mais distante, um fino olhar de esmeralda furava as palavras dum gordo livro.
A pupila de Junho inventa cada tapeçaria d’imagens!...

quinta-feira, junho 16, 2005

Palavras Ausentes

Muita gente tem o pretexto e domina o contexto. Só lhe falta mesmo é escrever o texto...

quarta-feira, junho 15, 2005

Stradivarius

Uma antiga lenda doméstica garantia que aquela medium,connosco aparentada pelo apelido do marido, sentada na muito vulgar sala da braseira perfumada a bagas de eucalipto e sempre agitada por netos pirralhos, conseguiu descrever cada variação, todos os aplausos do concerto do seu filho violinista, naquele preciso momento a exibir todo o seu virtuosismo num palco além-Alântico.
Fantasias telepáticas! Até porque, em herança, ninguém ficou com qualquer Stradivarius...

terça-feira, junho 14, 2005

Ninharias Nihilistas

Um farrapo de nada foi desfraldado ao vento - como se fosse uma colgadura pendente de qualquer nuvem vadia...

segunda-feira, junho 13, 2005

Genial Champanhe

“A experiência de uma tempestade no mar, até um imbecil não a esquece e sabe contá-la; mas para uma tempestade numa taça de champanhe, é preciso o génio de Proust.”
(Leonardo Sciascia)

Heróis do Mar

Povo de marinheiros desempregados, já só brincamos com caravelas nas banheiras dos tê dois...

quinta-feira, junho 09, 2005

Visões & Versões

A palavra branco tem um sentido diferente para o pintor e para o físico, para o antropólogo e para o médico, para a lavadeira e para a noiva, para o versejador e para o jogador de lotaria.

quarta-feira, junho 08, 2005

Falsários Brilhos

Cego de sol em plena tarde, a mínima mica, qualquer lantejoula, uma singela escama, os cacos de vidro, uma vulgar fivela de farda – tudo me parece ouro!

domingo, junho 05, 2005

Mundo Venatório

Estendido o planisfério na esplanada – com um diletantismo idêntico ao da dama que adornou a lapela com três tartarugas de joalharia -, quantas ideias sobre a História se fisgam com anzol de pesca, quantos preconceitos em torno da Geografia se apanham com armadilhas para pássaros canoros.
O melhor, pois, é contar os proeminentes ventres femininos que vão percorrendo o passeio e denunciam, agora, as mais intimas noite da passada invernia. Há alguém por aí que coleccione gaiolas?...

sábado, junho 04, 2005

Velharias

“O disparate não agrada senão quando é novo.”
(Pierre Corneille)

Evidência

A onda que se agita num copo de água não faz espuma.

quinta-feira, junho 02, 2005

Risonho Mel

Os últimos dias do equinócio primaveril enchem as pupilas com um oiro que pinta as tardes demoradas, riscos que parecem hieróglifos ou runas na orla marinha, risonhos seios com seu mítico paladar a mel.
Chegou, pois, o tempo em que apetece arrumar casacos e contabilidades, panegíricos e cepticismos, tratados e moleskines.

quarta-feira, junho 01, 2005

Manias do Séc. XII

“Às vezes, quem pediu um livro emprestado, empresta-o a outro, sem pedir autorização ao proprietário, e este empresta-o a um terceiro, de modo que o proprietário acaba por não saber a quem o há-de pedir e a cadeia de empréstimos vai-se alargando de tal maneira que ninguém responde já pessoalmente pelo livro que lhe foi emprestado.” Boaventura de Bagnoregio

terça-feira, maio 31, 2005

Relojoarias

Sem se perceber a causa, o motivo, a razão, de quando em vez a nossa clepsidra deixa de estar certa com a ampulheta do Mundo.

segunda-feira, maio 30, 2005

Mania das Letras

Os fazedores daqueles hieróglifos tão belos como Cleópatra ou Nefertiti, os lapidadores que deixaram textos de pedra em todo o sítio conquistado por César e demais romanos, as capitulares carolíngias dos monges das iluminuras, a arte de escrever que os cultores do Corão espalharam de Córdoba a Samarcanda, os caracteres dos inventores do papel e da bússola e do fogo-de-artifício, o cuidado com as serifas tido por Garamond & Bodoni & demais sucessores de Gutemberg, as folhas longas dos guarda-livros lusitanos do século passado....
Quem se lembra da arte da caligrafia?

sexta-feira, maio 27, 2005

Amnésias

As barbatanas douradas, escarlates, listradas – mesmo se ainda saudosas do Índico ou de outros mares tépidos que o aquário apenas imita vagamente – já não sabem estranhar o cinza da manhã, o borrifar da morrinha, o passeio dos guarda-chuvas.

quarta-feira, maio 25, 2005

Branco & negro

O avião deixou um risco de giz no firmamento azul. O petiz riscou um aeroplano no quadro preto.
Adoram ambos desenhar...

domingo, maio 22, 2005

Equívocos

Bagas de iodo, escamas nas dunas, pérolas de robalo, camarinhas em ostras...
Perturbante maresia!

sexta-feira, maio 20, 2005

Melomanias

Uma desgarrada de arrais ou araras; um coro de arlequins ou querubins. Cada tímpano, sua melopeia.

quinta-feira, maio 19, 2005

Evasões

Gôndolas e matrioskas em papel couché; frases de Conrad ou London; posters do Machu Pichu e do Taj Mahal; estranhas palavras como Antioquia ou Ushuaia; as rotas de Marco Polo e Serpa Pinto; a escala das plantas de Anchorage ou de Samarcanda...
E nunca mais chega o tempo dos búzios e dos balões no horizonte!

quarta-feira, maio 18, 2005

Lavores

Quando a massa cinzenta parece um novelo de lã enrodilhado por gato brincalhão torna-se difícil tricotar uma nova ideia.

terça-feira, maio 17, 2005

Preferências

Espuma o mar em ondas frágeis. Saliva o discurso em palavras ocas.
Sábio silêncio!

domingo, maio 15, 2005

Filosofantil

E se, de repente, percebemos que estamos a argumentar com um Kant de sete anos? Aumentamos-lhe a idade ou voltamos a dormir?

sexta-feira, maio 13, 2005

Nocturno

Numa almofada de nata, o sono parece um vinho generoso.

quinta-feira, maio 12, 2005

Deve & Haver

Avisos avulsos, facturas desprazadas, recibos para reciclar... Há dias saltimbancos!

quarta-feira, maio 11, 2005

Poeiras

Um sorriso de momento ou de menina ou de memória paira no ar do dia e da cidade – como se a marota brisa matinal tivesse arrastado pétalas de papoilas, brincos de cerejas, bandeiras vermelhas, semáforos proibidos e lábios escarlates.

domingo, maio 08, 2005

Cintilar

Os sorrisos parecem ganhar ecos nos espelhos das palavras.

sábado, maio 07, 2005

Horizonte

Um barco de luz a cruzar o poente - e a lua escondida.

sexta-feira, abril 29, 2005

Antípodas

"(...) os velhos lacadores da China têm mãos vermelhas nos seus juncos de madeira preta; e as grandes barcas da Holanda perfumam-se de girassol.”
(Saint-John Perse)

Mudez

O velho ancião devia ter deixado o conselho, para juntar àquele seu adagiário particular: devemos dar tanta atenção às conversas dos taxistas, aos descontos dos caixeiros viajantes, às revelações dos pregadores religiosos como a um ruidoso rádio de taberna, à voz de barítono de qualquer ébrio, a um tumultuoso altifalante de feira, a uma entusiasmada arenga de comício.

quinta-feira, abril 28, 2005

Geometrias

Aquela pomba, num voo bastante insensato, descreveu um arco perfeito no nariz do veloz autocarro.

domingo, abril 24, 2005

Ecos

“O seu nome de Veneza
em Calcutá deserta”
(Marguerite Duras)

Patranha

Na paragem do autocarro, passa uma generosa meia dúzia de caravelas com rodas quando se está à espera de uma modesta traineira alada.

sábado, abril 23, 2005

Pardo

Há uma sombra, uma cinza, uma nuvem... Qualquer coisa que empalidece a paisagem.

sexta-feira, abril 22, 2005

Miragem

Asas de pássaros sobrevoam a profana cúpula envidraçada. Como se fossem querubins a pairar sobre o zimbório de catedral...

quinta-feira, abril 21, 2005

Onírico

Mergulhar nos sonhos com os tímpanos recheados de Rachmaninoff...

quarta-feira, abril 20, 2005

Preguiça

A actividade não passa, afinal, de um esforço inútil de quem não sabe descansar.

terça-feira, abril 19, 2005

Destinos

Os passos ainda não dados toldam-nos a razão, inventando mapas e bússolas, em que a agulha magnética tanto aponta para o Hermitage como para o Taj Mahal e a escala cartográfica aumenta o tango em El Viejo Almacén ou a estrada para o templo de Carnac...
Afinal, também nunca leremos todos os livros indispensáveis.

segunda-feira, abril 18, 2005

In-folios

"O seu interior mal iluminado, escuro e solene estava impregnado de um forte cheiro a laca, de cores, incenso, aromas de terras distantes, mercadorias raras. Lá se encontravam fogos-de-bengala, caixas mágicas, selos de países que já não existiam há muito tempo, estampas chinesas, anil, colofónia de Malabar, ovos de aves exóticas, papagaios e tucanos, salamandras e basiliscos, raízes de mandrágora, caixas de música de Nuremberga, homúnculos dentro de garrafas, microscópios e óculos, sobretudo livros raros e muito especiais, velhos in-folios cheios de gravuras maravilhosas e fascinantes histórias."
(Bruno Schulz)

Contas

Do ábaco ao computador, do sestércio ao cêntimo, o acto de contar moedas altera sempre a expressão de quem o faz: um sorriso nos Patinhas e Rockefellers; a angústia de um personagem de Sttau Monteiro; lágrimas secas no rosto de quem não conhece notas de valor nem natas em creme!

sexta-feira, abril 08, 2005

Pulipa

Na risonha pupila de um bebé reflecte-se um passeio inteiro: pérolas de montra, pechisbeque em caracteres chineses, jornais no escaparate, estendal de fruta, bata d'escola, nódoa em fato macaco, decotes de lantejoulas, crucifixos no interregno papal, lentes escuras contra o sol, adiposidades que a moda salienta, árvores pouco frondosas, penas de pomba, cartazes de procissão, folhetos de rave, paredes que dão dinheiro, varandas rendilhadas, tabiques d'obras, fumos d'escapes, perfumes almiscarados, odor a café moído, lixo que ofende narinas, nacos de conversas ocas, gargalhadas estrídulas, Vivaldi em versão telemóvel, as raras elegâncias, os imensos ridículos.
Um dia, pupila mais crescida, pode ler tudo sobre estes tempos nas páginas do Lobo Antunes...

terça-feira, abril 05, 2005

Ampulhetas

Escoa-se a areia, esvai-se o tempo, esgota-se a paciência, estiolam as ideias, estremece o coração, empalidece a beleza...
A ampulheta é carrasca da juventude!

segunda-feira, abril 04, 2005

Diásporas

As palavras que ecoam eternamente nos búzios – quais metafóricas campânulas das grafonolas da memória ou veros auscultadores deste tempo cibernético – são vozes herdeiras de avoengos. Dos que zarparam em orgulhosas nozes com velas benzidas para conquistar mapas ignorados; dos que embarcaram em paquetes que distinguiam os beliches com piolhos das camas para violinos.

sexta-feira, abril 01, 2005

Bruscamente

Mãos bruscas no folhear desfazem, num ápice, a frágil arquitectura de papel em que se ergue diariamente um jornal. Esses dedos desajeitados saberão cuidar de pétalas de malmequer, afagar o fugaz sorriso de bebé ou relacionar-se com qualquer outra metáfora de porcelana?

quinta-feira, março 31, 2005

Matinal

Uma poalha d'ouro pela manhã - percebe-se mal se descerra a persiana - desfaz os sorrisos muito nublados.

quarta-feira, março 30, 2005

Caligrafar

Aspergir com tinta a folha; escrever com chuva o dia...

domingo, março 27, 2005

Circunferências

Nas cartas de marear, no esquisso arquitectónico, nas pautas de música, na simbologia maçónica, na tradição pascal - a ponta seca ou a tinta da China, jamais me entendi com o compasso.
Dificuldades com a circunferência...

sábado, março 26, 2005

Obsessões

Guarda-chuva fechado e lupa em riste, o daltónico procurava o arco-íris numa gota de chuva.

sexta-feira, março 25, 2005

Ventos

A brisa arrasta perfumes de dama, pétalas de jardim, folhas soltas. O furacão varre ideias, ícones, ilusões.
O tempo está ventoso!

quinta-feira, março 24, 2005

Ovologias

Alinhados em prateleiras, com cuidados de bibliófilo ou requintes de filatelista: o ovo miudinho da codorniz, o ovo enorme da avestruz, ovos pintados na tradição magiar, ovos moles da doçaria, o ovo síntese da escultura de Brancusi, ovos das antigas cosmogonias, o bergmaniano ovo da serpente.
E, também, ovos com coelhinhos...

quarta-feira, março 23, 2005

Canela

E se a Via Láctea, de súbito, fosse polvilhada de canela? Adoçava-se o sono, extirpavam-se os monstros infantis, retirava-se a palavra pesadelo dos dicionários?
Devia consultar um astrónomo-doceiro...

terça-feira, março 22, 2005

Equinócio

O equinócio de Março, ao enterrar o entrudo invernoso, venteia os pólens e erotiza as epidermes.

sábado, março 19, 2005

Minutos

Ao desembrulharmos uma viagem, num simples vaguear de passos, em acasos de fortuna ou azar, podemos rever rostos durante décadas cegos no quotidiano das pupilas. Enrugámos faces e prateámos fios de cabelo. Mas nada que se compare ao ritmo rimbaudiano: o poeta, em carta dirigida a sua mãe, dizia sentir-se bem, “mas embranquece-me um cabelo por minuto”...

quarta-feira, março 16, 2005

Régua

Entre o oito e o oitenta há o trinta e nove. E, no entanto, é tão difícil atingir o imaginário equilíbrio desse número como conseguir que algum antropólogo nos apresente o verdadeiro homem-padrão - de altura normal, com o bom senso comum e uma cultura média.

sexta-feira, março 11, 2005

Mini-Callas

“Uma fila de camelos, aparentemente sem condutor, atravessava a ponte, seguida pouco depois por uma carroça puxada por um burro transportando uma assembleia de carpideiras a caminho de um enterro, com as faces lutuosas pintadas de azul. De tempos a tempos, uma delas entregava-se a uma série de breves lamentações, tal qual uma cantora a exercitar a voz antes de entrar em cena.”
(Albert Cossery)

Dúvidas

J. S. Bach temperava o cravo com canela ou com paprika? E, atendendo ao gosto botânico dos melómanos da época, por que motivo nunca compôs sonatas para tulipa e violino?

quinta-feira, março 10, 2005

Securas

Tão gretada como um velho rosto enrugado, mais desesperada por bebida que a Parda vicentina, não consegue silabar, em lamúria moribunda ou revoltoso grito, a sua imensa sede.
A terra está seca!

quarta-feira, março 09, 2005

Diapasão

Qualquer murmúrio miudinho, se bem empurrado pelo vento das vozes, depressa se transforma em estrídulo clangor.

terça-feira, março 08, 2005

Estendal

“Sedas cintilantes das Índias, máquinas de costura do Japão, canetas americanas, tapetes persas, perfumes franceses, cigarros turcos, couros da Abissínia, véus de Cachemira, âmbar do Báltico, cutelaria da Suécia, conservas portuguesas... estão dispostos com grande cuidado nestas pequenas lojas onde não podemos manter-nos de pé e os obesos não são admitidos.”
(Philippe Soupault)

Veludos

Nas caligrafias esquecidas de noites ébrias, havia um gato negro, que jamais abandonava as casas de veludo, sempre a ronronar na epiderme de qualquer musa nórdica.
Lunática imaginação.

segunda-feira, março 07, 2005

Domingais

Um dinossauro de borracha esverdeada destronou os clássicos espantalhos de palha, um catraio que ajoelhou o riso parece rezar no meio das rosas, o jardineiro que trata o coração do pomar doméstico passeia entre as copas com gravata de missa.
Domingo d'absurdos!

sexta-feira, março 04, 2005

Fiat lux

Egos iluminados, estrelas da profissão, espíritos brilhantes... Tanto escritório que podia poupar em lâmpadas!

quinta-feira, março 03, 2005

Comas

"O vulcão que, nesse dia, estava de humor complacente, fumava tranquilamente o seu cachimbo [...]."
Théophile Gautier

Daltonismo

Quando nos confrontamos, numa esquina de cidade ou num beco de pensamento, com memórias tão antigas como retratos em sépia, parece que voltamos a galopar no pardo verde de um olhar sereno.

quarta-feira, março 02, 2005

Atmosferas

Nem este risonho sol gelado é capaz de fazer esquecer uma noite de lençóis solitários em que parecia mesmo que se estava a dormir num frigorífico.

domingo, fevereiro 27, 2005

Labirintos

Num vulgar dédalo de ideias, nenhum tigre borgesiano, nem sequer um bichano de poltrona...

Genesis II

Se - essas irritantes duas letras que tanta diferença fazem... - não tivesse o apoio de um engenheiro, não haveria luz em nenhum farol longínquo.

Genesis

No princípio...