“Cana serve de mezinha
Pra chulé e suvaqueira,
Unha encravada, frieira,
Vitiligo, sarna e tinha (...)."
(Manoel Monteiro)
domingo, abril 23, 2006
sábado, abril 22, 2006
Tecidos Discordantes
Uma solitária gelha na vasta planície do lençol bastaria para zaragatear o almoço entre umas pupilas aveludadas e uma voz sedosa.
quarta-feira, abril 19, 2006
Espreitar Destinos
Sinais de ouro, sinas de chumbo...
Tudo se desfaz, como se nada passasse de um risco com cheiro a incenso ou uma cortina cénica que cai sobre o sono.
Tudo se desfaz, como se nada passasse de um risco com cheiro a incenso ou uma cortina cénica que cai sobre o sono.
terça-feira, abril 18, 2006
Observadores d’Ampulheta
Do alto do século espreita os anos que passam como quem se instala à janela para conferir as rugas da rua.
segunda-feira, abril 17, 2006
Toldadas Cintilações
Uma tremura de luz agita o pacato rio e um barco de garrafas fura a violenta onda da noite.
quinta-feira, abril 13, 2006
Detectives de Brincar
Aos charadistas do quotidiano – empenhados como os viciados em palavras cruzadas, meticulosos como os coleccionadores de borboletas, lógicos como os famosos mestres de xadrez – não se lhes pode sugerir o menor indício, seja uma dissonante nota na pauta ou um pormenor absurdo na paisagem, sobre qualquer enigma de algibeira. Pacientes como os inventores da pólvora, mais ano menos mês, encontram sempre a chave dessa verdade de pacotilha.
quarta-feira, abril 12, 2006
Gato Medium
A hirta cauda do felino, com seu leve agitar de bandeira em mastro esvoaçante, ao pisar felpudos tapetes encarnados ou soalhos encerados de brilho, sem nunca perder seu ar de Xá da Pérsia, de Senhor do Mundo, tornava-se uma metáfora do desejo adiado.
terça-feira, abril 11, 2006
Traição do Olhar
As pupilas lêem, vezes sem fim, uma palavra que, entre milhares d’outras, a mão escreveu. Distraídas com os exércitos de letras, não descobrem que o sentido que se pretendia dar àquele termo é contrariado por aquilo que foi, de facto e d'ortografia, registado no papel.
E é preciso a lupa de pupila alheia para denunciar aquela traição do olhar, que nos convenceu que tínhamos escrito o que não tínhamos escrito.
E é preciso a lupa de pupila alheia para denunciar aquela traição do olhar, que nos convenceu que tínhamos escrito o que não tínhamos escrito.
segunda-feira, abril 10, 2006
Testamento Rasgado
Quando, finalmente, cerrou as pálpebras deixou ao Mundo um sorriso como herança, duas palavras absolutamente justas, três amigos que lhe perpetuaram a memória. Mas nenhum testamenteiro para dividir moedas douradas, zangas ancestrais, ambições de famas futuras.