domingo, agosto 28, 2005

Nódoa Branca

As palavras esqueceram-se de chegar ao aparo da caneta...

sábado, agosto 27, 2005

Maniento Galicista

Saboreava, com imensos requintes, umas singelas maçãs da terra.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Jardim de Especiarias

Uma gota de solidão a temperar a sopa.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Insónias Marinhas

Os lençóis da cor do mar agitam ondas de ideias, espumas de projectos, tempestades de pesadelo, até a exausta lua assentar, definitivamente, a bonança do sono.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Brincos com Música

Nem uns brincos em forma de sax com som agrediriam tanto os tímpanos como os músicos daquele botequim.

terça-feira, agosto 23, 2005

Vagabundo Agrilhoado

Um avião com tamanho de fósforo voa quase cego em torno da lâmpada central. Faz de conta que a sua rota saltou da geografia para se anichar nos desejos adiados de um qualquer vagabundo agrilhoado...

segunda-feira, agosto 22, 2005

Vidros Quebrados

“Porque o deserto tem de tempo a areia entornada de milhões de ampulhetas partidas”
(Hermínio Monteiro)

Tradição vs Tradução

O mar ficou com um horizonte difuso na tão matinal como vernácula névoa atlântica. Até parece que também se vão esfumando as palavras no seu incessante trânsito entre as línguas mortas, os dialectos moribundos e os idiomas triunfantes.

terça-feira, agosto 16, 2005

Ampulhetas Agitadas

As horas nem sempre cabem inteirinhas nos ponteiros do relógio...

domingo, agosto 14, 2005

Cliché de Mestre

Esticado à sombra, apenas... Na pose daquele corpo feminino que Alvarez Bravo, ao conceber “La buena fama durmiendo”, deitou ao sol.

sábado, agosto 13, 2005

Fantasias

O sujeito era um pé descalço em plena sapataria da inteligência.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Costumes em Desuso

“(...) um doutor lhe fez sua arenga costumada e os oficiais lhe apresentaram as chaves em um bacio de prata.”
(Gaspar Correia)

Visões & Ilusões

Encostado ao fundo, qual veleiro sem âncora pintado numa parede, descortino o vulto antigo, como se Lawrence Ferlinghetti estivesse ali de atalaia à porta, a conferir os jovens decotes femininos, os hirsutos penteados dos rapazes, a garabulha de vozes que silencia telemóveis, a sucessão monótona das bebidas louras, a desordem das cadeiras...

quinta-feira, agosto 11, 2005

Antigos Ecos

Um sopro, um assobio, um chilreio – qualquer coisa me traz de volta a silvestre melodia...

quarta-feira, agosto 10, 2005

Olhares Míopes

No meio da algazarra, como se fosse um improviso de jazz, uma pupila vadia brilha mais que a lua nova.

terça-feira, agosto 09, 2005

Resquício de Conrad

“Mas trago notícias de como é que está no ‘coração das trevas’, nas fronteiras do vaivém, nos túneis da precaução, nas rotas da má lembrança, e da boa, também, se às vezes fecho os olhos e é o mesmo, o cheiro, e eu tinha então vinte anos e andava a ver se encontrava a ponta do meu fio, na meada.”
(Ruy Duarte de Carvalho)

Absurdas Rimas

“As muçulmanas”, indagavam uns inocentes caracóis ao repararem na proliferação de cabelos escondidos e rostos velados, “são diferentes de nós, as humanas?”

segunda-feira, agosto 08, 2005

Misterioso Verde

“Os ambulantes transportam as suas cargas mágicas dos mais diversos objectos de vertu, desde os macios tapetes de Xiraz e do Balochistão até aos baralhos de cartas de Marselha; incenso de Hedjaz, contas verdes contra o mau-olhado, pentes, sementes, espelhos para gaiolas, especiarias, amuletos e leques de papel... a relação seria infinita [...].”
(Lawrence Durrell)

Moreno Verão

Loucas lantejoulas, farrusca floresta, sol d’incêndio!